São Paulo - 17 e 18 de agosto
Sesc Pinheiros - mais ou menos 150 pessoas em duas apresentações.
Amigos: Daniel, Débora (grávida de 8 meses!) e Cleverson.
Além do bem e do mal, além de ser o centro do Brasil em qualquer sentido que valha à pena, além de ser uma terra para onde a gente sempre vai em busca de alguma coisa e de onde a gente sempre volta trazendo alguma coisa na bagagem, São Paulo e sua babel urbana é, salvo um incidente ou outro (em 1986 fui assaltado à mão armada em pleno meio-dia, em frente à Escola Macunaíma), um eterno prazer. Desembarcamos em Congonhas, que apesar de todas as críticas eu acho um charme cinquentão (ou sessentão?) e partimos para a Vila Madalena, onde eu estive apenas uma vez, ano passado com o queridão Luiz Bongiovanni, num almoço especialíssimo. Dessa vez levamos na bagagem o Guhstavo Henrique, que foi de ônibus pra voltar de avião e experimentar a sensação pela primeira vez. É bom quando logisticamente tudo funciona como um relógio e melhor ainda quando artisticamente tudo funciona com surpesas boas e mistérios gososos. Em São Paulo foi assim. A produção (Debora e Daniel) deu toda a estrutura e nos deixou confortáveis para fazer o espetáculo, embora o Cleverson sempre tivesse dúvidas se o nosso figurino era aquele mesmo ou estávamos de brincadeira; ou ainda quem entrava em cena e ficava sentado na plateia conversando amenidades trinta minutos antes do espetáculo. "O Evangelho Segundo São Mateus" sempre acontece num espaço fluido e gasoso, à espera de um diálogo franco com o público. No primeiro dia, teatro quase cheio, comecei a minha conversa com a plateia, quando apresento o elenco, conto do Grupo Delírio, de nossas ideias, nossas propostas e anseios. Já, então, os olhos do público brilhavam simpáticos, apesar de dois senhores, na penúltima fileira do teatro, que acintosamente faziam questão de virar o rosto para o lado durante todo o tempo em que fiz o prólogo. Ao final, enquanto eles insistiam em demonstrar que não estavam interessados no que eu falava (por que foram ao teatro?), não resisti e como bom leonino disparei: "Podem olhar para nós, que não mordemos!" Depois me arrependi, mas aí já era tarde. E foi, talvez, de toda essa experiência com o Palco Giratório/2011, o mais belo espetáculo: sutil, sensível, poético, emocionado, encantado, puro, sincero e aberto. Mil e um adjetivos! A plateia demonstrava a cada segundo sua satisfação e quando mostrei o pão comprado na padaria e que na fantasia do teatro teria sido assado na coxia, o público não resistiu à brincadeira e aplaudiu. Foi divertido e emocionante! Ao final não tínhamos dúvidas de que o teatro tinha acontecido e auditório e palco estavam plainando na alegria e na entrega. Inicíamos a conversa com o público, que permanceu no teatro, interessado, e ela durou mais que uma hora, acabando só quando os funcionários do Sesc pediram para encerrarmos porque o teatro precisava ser fechado. Fomos, literalmente, abraçados pelo público! Ouvimos coisas que engrandecem nossa arte/profissão. Depois a noite que separa a quarta da quinta-feira! Guilherme e Tiago seguiram para festas dionisíacas! A Regina para a casa da Renata, sua filha, mais o Bruel, para o aconchego familiar; a Janja, grávida de 6 meses e meio, para o hotel e eu, mais o Fernando, o Saulle e o Guhstavo Henrique para o Filial, um bar fantástico no coração da Vila Madalena, para enchermos a cara com muito (mas muito!) chopp e cachaça. Resultado? O Saulle pra lá de bêbado, rindo mais que nunca (e depois, dizem, vomitando mais que nunca!) e cantando o quanto a vida é bela e o quanto ela vale a pena (quando a alma não é pequena!). E se na terça-feira, antes da primeira apresentação, fomos à pre-estreia de "Macumba Antropofágica" o novo espetáculo do Oficina e do Zé Celso, grito contra a onda homofóbica que lança seus tentáculos por todos os cantos brasileiros, iluminação do Bruel e todo mundo pelado (até uns públicos!), na quinta-feira à tarde fomos assistir "A Árvore da Vida", do Terrence Malick, que é Clarice Lispector no cinema americano. Será que o Terrence sabe da Clarice? O Guhstavo torceu o nariz, mas a Regina, a Janja e eu saímos em estado de graça. Música maravilhosa de Alexandre Desplat e uma virada de página a lá Stanley Kubrick. Depois uma passada na Livraria Cultura, do Conjunto Nacional, de onde é impossível sair sem um livro debaixo do braço. Comprei "Sobre o Teatro", do Deleuze, que lerei, não sei ainda quando. E à noite? Bem, mais prazer, mais amor, mais afetividade do público. Um espetáculo tão delicado quanto no dia anterior e um público mais doce e carinhoso ainda. Quando a Regina aponta que "nosso espetáculo está chegando ao fim..." o público soltou um "hááááááááá!" expontâneo, de encher o coração de orgulho! Depois contamos que aquele era o último da Janja, que passa o bastão para a Cecé Marcelino, porque grávida ela não pode atravessar o interior do Ceará, de van e sol da testa. Vai ter o Théo (ou Téo?) em Curitiba, com os cuidados da mamãe. E, puxados pelo Guilherme, todos, atores e público, cantaram "Parabéns pra você", para este ator/diretor/autor, que fez aniversário no palco do Sesc Pinheiros, feliz e artista. Quando me perguntam quantos anos estou fazendo a resposta é simples e imediata: "O suficiente!" E estamos conversados. E fomos comemorar no Piolin, com outros amigos queridos da Cia. do Tijolo: Dinho, Rodrigo e Karen, mais a Amábilis, a Cecé, o Pedrinho e a Daphne. Na sexta-feira voltamos pra Curitiba, felizes, risonhos, satisfeitos. Nosso cenário foi para o Nordeste com a garota da transportadora garantindo: "Fiquem tranquilos, vamos cuidar bem dele!" Uma nova etapa virá e o imponderável, o misterioso e o encantado nos espera no próximo porto: Guaramiranga, serra do Ceará, de lembranças maravilhosas! Lá estivemos em 2007 com “Capitu – Memória Editada” e onde encontramos gente amada que carimbou pra sempre a passagem na nossa alma e no nosso coração! – Edson Bueno