Sobral – Ceará
05 e 06 de setembro
Amigos: Cris, Tony e Elano
Teatro São João –
Público: mais ou menos 160 pessoas em duas apresentações
Quando saímos de Guaramiranga para Sobral, um dos técnicos do Teatro Rachel de Queiróz brincou: “Vão para Sobral? Não esqueçam de levar agasalhos!”. “De lã?”, eu perguntei. “A mais grossa possível!”, ele respondeu gargalhando. Pois viajamos pelo interior do Ceará, pela paisagem de rochas estranhíssimas e belas, carnaúbas e casebres de pau-a-pique, uma mistura de marrom e verde nas folhas resistentes. A caatinga, paisagem brasileira de cinema. É uma viagem de não mais que quatro horas; mas instrutiva, didática, a oportunidade de conhecer um Brasil com outra quentura e texturas que trazem a marca da resistência. Não é fácil conviver, entre outras coisas, com o sol a pino, literalmente torrando o cérebro. Chegamos em Sobral e entendemos o “agasalho”. É muito, muito calor. Alguém diz que se não tivesse o sol seria um forno. E, orgulhosos, os moradores, amigos, contam piadas sobre o clima. Dizem, por exemplo, que em Sobral só existem duas estações no ano: o verão e o inferno! Ou que quando o cearense morre e vai para o inferno (os que vão, claro!), leva um cobertor. Dá pra ter uma ideia, porque não é apenas a questão dos 36 ou 37 graus. É que parece 50 graus! E vamos para o Teatro (Theatro) São João, fundado em 1800, preparar o espetáculo da primeira noite. Na plateia não mais que 50 pessoas, mas também, era apenas segunda-feira! E já fizemos amigos, uma garotada arretada, cheia de vida e boas-vindas (como o Lucas e o João) que já foram contando a história de Sobral, sobre o dia que a Princesa Izabel passou uma noite aqui, sobre o metrô que vai sendo construído, antes mesmo de Fortaleza, sobre o Arco de Nossa Senhora de Fátima e ainda as fofocas sobre alguns políticos, que, claro, não vou ser indiscreto e contar aqui. Foi uma apresentação feliz e quente como era de se esperar e prever que a do dia seguinte seria poderosa. A receptividade da plateia era tal que tínhamos a certeza de que cada espectador traria mais uns 3 ou 4 para o dia seguinte. E de fato aconteceu. Na terça o teatro estava lindo, cheio e animado. E a impressão era a de que os 50 do dia anterior estavam todos lá, de novo, agradando os curitibanos deslumbrados. Quando chamamos voluntários para a ceia, foi uma explosão imediata. Sorriso largo, todos queriam subir no palco, tomar vinho, comer pão e compartilhar o espetáculo. Nunca a Santa Ceia foi tão plena e abarrotada, porque afinal de contas, nela não estavam só os 12 apóstolos. Haviam os penetras, com certeza. Penetras não retratados por Da Vinci, mas garantidos pelo Grupo Delírio. E nas palavras do Guilherme, lá estava até o apóstolo “etc”, firme e decidido. E nossos amigos nos levaram para uma última noite de passeio pela cidade. Vale dizer que à noite bate uma brisa friazinha em Sobral e tudo fica delicioso, com a lua encheiando e o Gustavo dando palha, cantando “Garota de Ipanema” num bar, com o Lucas ao violão. E cerveja, claro, que ninguém é de ferro. Não dá pra dizer que “O Evangelho Segundo São Mateus”se modifica à medida que o Palco Giratório avança, mas dá pra dizer que se poetiza, amadurece conforme cada plateia, ganha contornos e cores inusitadas, enriquece, porque é um espetáculo feito de colaboração. A Cecé entra pela porta da frente, contribuindo com espontaneidade e graça, muita arte e emoção. E o nosso espetáculo, filho de Fernando Pessoa e São Mateus, afilhado de Pasolini, Nietzche, Dostoiévski e Clarice Lispector, parece o sangue que corre pelas nossas artérias. “Palco Giratório é muita felicidade, mamãe”! Perdoem a piada interna. Ah! E só pra registrar, uma senhorinha na plateia, lá pelas tantas, diz para a outra senhorinha ao lado: “Eles são uns pecadores! Mas são tão lindos...! “
Nenhum comentário:
Postar um comentário