domingo, 1 de maio de 2011

COM QUANTOS "JESUS" SE FAZ UM ESPETÁCULO?

Marcelo, o primeiro!
Diego Mejia, o segundo
Guilherme, o terceiro.

A concepção de “O Evangelho Segundo São Mateus” deveu muito à energia do Marcelo Rodrigues. Quem? O nosso primeiro “Jesus”. Acredito muito em energias. Naturalmente, à medida em que os ensaios caminham, escolho a energia de um ou dois atores para que ela (ou elas!) conduzam a ação. Como isso funciona? Ainda tenho dificuldades em transformar essa experiência em técnica, mas intuitivamente vou me permitindo influenciar pelo espírito deste ou daquele ator. Então esse espírito toma conta da dramaturgia e finalmente do ritmo, e eu acho que assim se estabelece a “alma” do espetáculo. O Marcelo é um ator muito especial. Além de todas as suas qualidades como profissional, tem um poder de improvisação enorme e uma simpatia natural, fruto, eu penso, de um coração infinito. Ele é sempre sincero, sempre disponível, sempre fraterno, sempre muito, muito humano em todas as suas ações. O Marcelo tem aquela inocência artística fundamental para a originalidade da obra de arte. A sua criação é sempre espontânea e nova, livre de vícios e falsos artifícios. Então depositei em seus olhos a responsabilidade de dizer coisas que eu considero importantes, pela simples razão de assim serem, longe e livres de dogmas ou pregações demagógicas. Seria sempre preciso que a plateia acreditasse que o que estávamos dizendo era puro, sincero e necessário e mais, que não éramos preconceituosos ou escravos de leis e tratados. A palavra na boca dos atores sempre seria livre e por isso, honesta. Não era uma tarefa fácil. Deixei que a palavra na boca do Marcelo – com o que ele tem de sincero,  maroto e humanamente falível – influenciasse o espetáculo. Sempre tive muito orgulho em vê-lo brincar com tudo e com todos. E sempre foi muito lindo! Mas um dia ele teve que sair para outras experiências com seu grupo “Antropofocus” e precisamos substituí-lo. Como? Por quem? As falhas humanas e as imperfeições sempre me fascinaram. Como no texto da Clarice Lispector que a Janja diz no meio do espetáculo:Gosto de uma maneira muito carinhosa do que é inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão. É a minha descoberta de todos os dias. Cada coisa é o que é, e é difícil explicar a alguém quanto isto me alegra. E quanto isto me basta. Basta existir para ser completo. Então que eu tive que encarar a substituição. E entrou para uma única temporada no Teatro José Maria Santos, o Diego Mejia Neves, um ator/bailarino que eu conheci fazendo Romeu, na encenação do Balé “Romeu & Julieta”, do Teatro Guaíra, que tinha o Luis Bongiovanni como coreógrafo. Diego é compriiiiido! Sei lá, uns 1,90m, talvez menos. Por essa razão que a própria razão desconhece, conseguia ver em seus olhos e voz a sinceridade necessária para fazer não apenas o nosso Jesus brechtiano, como o menino que encontro o “Jesus fugido do céu”, do Fernando Pessoa. O Diego Mejia deu conta do recado e como era por profissão bailarino, também seguiu sua vida indo embora pra São Paulo. E mais uma vez a marcha da vida nos deixou precisando encontrar um outro “Jesus”, já que por força do destino, nosso espetáculo insistia em ter vida longa. E apareceu, vindo diretamente da “Malhação” da TV Globo, um mosquito: o Guilherme Fernandes! Ah! O Guilherme! Esse, se não tinha, a doçura explícita do Marcelo e do Diego, tinha a molequice, a espontaneidade, a espivitez que eu sabia, ia dar uma nova cor ao espetáculo. E com o tempo, e o apoio do elenco, com certeza iria encontrando na cena, a doçura fundamental para que tudo acontecesse. O Guilherme deu um novo ritmo à cena, nem melhor, nem pior, apenas um outro. E nós, atores, nos permitimos jogar com o seu jogo. Certa vez, em Barbosa Ferraz, no interior do Paraná, fizemos “O Evangelho...”para uma plateia de cortadores de cana, simples pessoas que nunca tinham ido ao teatro. O espetáculo, em bruto, sem iluminação, aconteceu como mágica. E ao final, plateia encantada, eu olho para o Guilherme que chora emocionado, tendo descoberto uma das mil e uma felicidades que o teatro pode proporcionar ao ator. São três “Jesus”que já viveram nossa peça, mas todos encantados e isso é uma felicidade!

Um comentário:

  1. "...As flores florirão da mesma maneira..."
    Mas confesso que por aqui tudo está um pouco outono, rs.
    Muita saudades.
    Mas brindamos a este Evangelho e ao grande e generoso diretor Edson Bueno.
    Eparei Iansã!!!

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