domingo, 10 de abril de 2011

ENXURRADA DE PRAZER


Fortaleza - Ceará - 09 de abril
Público: aproximadamente 120 pessoas
Teatro Sesc/Iracema
Amigos: Monique, João Paulo Pinho, Grupo Polichinelo de São Paulo, Francisco, Alana, Flavia, Carlos, Dudu, Wallace, Pepeu e ...
Logo no início da apresentação de O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS, em Fortaleza, no Sesc/Iracema, brincando eu joguei uma responsabilidade para o público de um teatro cheio: a nossa expectativa de fazer a primeira função da peça no Nordeste era grande. Se o espetáculo sempre aconteceu em todos os lugares onde fizemos, tínhamos uma certeza íntima, mas inocente, de que no calor do Brasil tudo aconteceria numa ampliação de prazeres. Entrevistado por uma jornalista da cidade que me perguntou o que o público de Fortaleza poderia esperar do nosso trabalho, eu respondi sucintamente: amor, paixão, poesia e arte. Público muito concentrado, começamos meio tensos e até pra quebrar o meu próprio gelo recontei a piada que nos foi contada por um motorista de taxi: “Aqui em Fortaleza o calor é tão grande que os urubus voam com uma asa só, porque com a outra eles se abanam!” Todo mundo riu da obviedade da piada, mas eu achei que a coisa podia começar de vez. Tiago mandou a música e a Regina saiu falando: “... A história que nós vamos contar...” Estávamos com nossos corações muito abertos e durante muitas vezes eu tinha a sensação de que não era um espetáculo, mas uma vivência. E o público foi se soltando e nós também. E começou então a acontecer a grande festa, quando todas as máscaras caíram e ninguém mais teve medo de ninguém. Os largos sorrisos começaram a aparecer, a energia foi ficando colorida e tudo pulsou de uma forma inimaginável. Nem nos meus melhores sonhos dessa estreia, poderia imaginar uma integração tão perfeita! Quase no final, quando a Regina pede alguns voluntários para integrarem a mesa eu recebi inteiro, no peito, o chute da felicidade! Olhei para o alto, para a arquibancada, e pelo movimento do público pude perceber que TODOS viriam e que em segundos a plateia de 120 cearences ia ficar vazia e o palco iria ficar abarrotado de atores e público! Poucas vezes na vida o teatro me deu essa sensação de preenchimento. E não era nem orgulho nem vaidade, era pura felicidade! A consciência da cena me fez reprimir um pouco o ímpeto geral e convenci o público a assistir já que tínhamos “apóstolos” suficientes no palco, mas iniciou-se uma converseira geral, como se não existisse mais teatro, mas um público muito à vontade falando e comentando e dizendo de tudo. Brinquei: a peça quase acabou, ainda haviam algumas palavras para serem ditas. E terminamos em êxtase nossa estreia nos palcos nordestinos. E nem precisamos convidá-los para o debate de praxe porque o público foi ficando, sentando, pegando vinho, comendo pão e rindo e falando conosco como se nos conhecêssemos todos há muitos anos e tívéssemos uma intimidade muito própria, curitibanos e cearences. Uma senhora falou do nível de filosofia de nossa poesia cênica e o João Paulo Pinho do irresistível estado de interpretação. E nós falamos do estado de epifania. Fazer teatro pode ser a coisa mais apaixonante do mundo. E é só agradecer olhando para a chuva fortíssima que caiu sobre Fortaleza, intermediada por céus abertos de estrelas vivas e um marzão de meu Deus!

2 comentários:

  1. Belo espetáculo, ou deveria dizer vivência? Enfim, me emocionei com o espetáculo que de tão "simples" torna-se enorme e nos alcança facilmente. E ao ler esse post mais uma emoção, pelo espetáculo e pela força do publico do meu estado.
    Bom demais percebê-lo e sentir que quem vem nos presentear com arte, não sai vazio, ao contrário.
    Grata! Que as próximas apresentações sejam também maravilhosas e que não se demorem para nos encher os olhos e a alma.

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  2. Lindo! ... Nunca me senti tão afetado ao assistir um espetáculo! ... Um prazer constante do começo ao fim ...

    Ao final no debate .. que mais pareceu uma continuação do espetáculo ... lembrei-me do textos "Açougueiros" de André Antoin e "seu" naturalismo... não sabia mais o que era espetáculo e o que era vida ... de tanta sinergia que houve entre elenco e publico ...

    Amei ...

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